terça-feira, 29 de março de 2011

Local onde vivo


Rua Felix da Cunha, Bairro Centro
CEP: 96508-230



Como em um sonho me ponho a olhar a rua que foi minha amiga de brincadeiras, minha arca do tesouro e minha confidente em meus tempos de infância. Não havia amiga mais devotada. Quando saía de casa, descendo correndo as escadas era ela que vinha me receber com seus mistérios, seus ruídos, seus cheiros e sabores inconfundíveis”.
Cláudia Valéria Miqueloti



Já se passaram 25 anos e aqui estou eu novamente sentada em frente à casa de minha vó, viajando por minhas lembranças tendo como inspiração minha rua e um velho banco de madeira construído por meu avô e reformado com o passar dos anos por meu pai, começo a contar a história do lugar onde vivo.
Com vocês a Rua dos Madeiras...
Tudo começou em 1965, quando meus avôs Celoi e Adão Madeira Pereira vieram de Caçapava para Cachoeira do Sul, naquela época minha mãe a filha caçula dos seis filhos da família tinha apenas sete anos. Uma rua de inicio sem calçamento, poucas e simples casas, sendo apenas três casas de alvenaria e alguns chalés acolhiam famílias, essa se tornou então o endereço de minha família.
Conhecido bairro de Cachoeira do Sul, por ter como seu ponto de referencia a proximidade com diversos pontos turístico da cidade como o Rio Jacuí, esse é meu segundo lar, pois me criei brincando de construir castelos gigantes nas areias, a igreja Matriz, onde fiz minha primeira comunhão, o Chateado D’ Eau (Castelo D Água em francês) lugar lindo onde passa horas esperando pra dar comida aos peixes, o Hospital de Caridade e Beneficência, onde nasci e belas praças onde me embalava nos balanços e brincava de pega-pega e como não podemos deixar de fora muito conhecido também por conter diversas casas noturnas, o motivo pelo qual hoje o local também conhecido como ZONA VÉIA.
Mas voltando para a rua, como conta minha vó com o passar dos anos, alguns moradores foram falecendo e seus herdeiros sem intenção de continuar morando naquela rua que estava a recém se formando acabaram vendendo sua propriedade, que por sua vez tiveram meus avôs como compradores. Hoje sentada nessa rua posso contar-les algo sobre cada morador que aqui reside, pois ainda recordo-me bem de minha infância e dos momentos mágicos que aqui vivi momentos estes de alegria, de medo, de tristeza, de aprendizado e descobertas, o primeiro beijo, os vários castigos, enfim momentos de uma vida. A primeira casa: a casa da esquina mora nossa vizinha Tânia, mãe de três filhos o Sandro, a Fernanda e a Luciana que por sua vez também se criaram nesta rua, e por acidente infelizmente tiveram sua casa devorada pelo fogo há alguns anos atrás, mas graça a ajuda dos vizinhos ninguém se feriu e hoje eles seguem sua vida normalmente construindo aos poucos o que foi perdido. Ao lado tem o galpão do meu avô Madeira, que infelizmente nós perdemos por conta da diabetes, o Seu Adão ou Madeira como era mais conhecido, sargento aposentado da brigada, que passava suas tardes dentro do seu velho fusca em baixo de sua árvore escutando as canções do cantor e compositor gaúcho Teixeirinha, também muito conhecido pelos jogos de pife, osso e rinha de galo, um observador e guardião da nossa rua, logo ao lado morava meu tio Irgen, que por motivos múltiplos acabou se afastando do seio da família, mas seu cantinho continua lá, hoje atualmente ele mora na Praia Nova, continuando a próxima casa é a da minha mãe, ops já ia esquecendo minha mãe Maria Eneida, como eu já havia contado antes venho morar na rua com apenas sete anos, e aqui como todos os meus tios construiu uma família, uma história e uma vida, casou-se com meu pai Edson Roberto das Neves, e juntos construíram o nosso lar, mas voltando ao assunto da casa essa eu conheço bem, primeiramente era uma casa simples, mas com um belo gramado na frente, isso conta meus pais, mas com o tempo a chegada de meus irmãos e eu fizemos com que a casa precisa-se de mais quartos e ai começou a construção, tanto eu como meus irmãos desde o nascimento moramos neste mesmo lugar, meu irmão Junior o mais velho tem 32 anos, depois minha irmã Chaiene com 27 e eu com 25 anos, hoje nossa casa está quase pronta, pois sempre tem uma reforminha para fazer, ao lado morava a Dona Noca, mãe de um grande musico cachoeirense Eurico Silva, era ela que cuidava de nós quando por ventura minha vó não podia isso era raro, mas acontecia, uma senhora bem velhinha, de cabelo branco e pele negra, infelizmente também já não está mais entre nós, depois do seu falecimento seu chalé ficou muito tempo abandonado, com vidraças e portas quebradas, o mato tomou conta e ai brincávamos que era uma casa amaldiçoada, lembro-me como se fosse hoje sexta feira costumava a passar o filme do “Jason – (Sexta feira 13)” na televisão, ai um dos meus tios colocava a teve na rua e nós fazíamos como num cinema, cada um com a sua cadeirinha assistindo aquele super filme de terror, e depois brincávamos de ver quem era o mais corajoso, tinha que entrar sozinho na casa da Dona Noca, sem vela nem lanterna, ih imagina que terror, o pátio da Dona Noca também serviu muitas vezes como palco pras atividades do dia do vizinho, isso sim era festa boa, o vô começava sexta feira com um sopão e claro a jogatina virava a noite, no sábado de manhã começava a festa com o som bem alto tocando musicas bem gaudérias, mas hoje em dia não existe mais essa casa, pois o Eurico vendeu este terreno pra minha mãe, ao lado do terreno temos o pátio da Maria, ela é cabeleireira mora na rua de cima, mas seu pátio faz parte da nossa rua, lá é o pomar da rua, nossa quantas vezes meus primos e eu nos machucávamos nos arames farpados pra roubar uma laranja, a Maria também era responsável pelos nossos cortes de cabelo, ao lado da Maria mora a minha Tia Ione, essa é minha mãe também, pois criou eu e meus irmãos como filhos e hoje até o filho dela fala que dividimos a mesma mãe, aos fundos da casa da minha tia, mora outro tio o Sinval, ao lado tem uma garagem de um vizinho que mora na rua de cima, este por sua vez, só o vimos quando ela vai cortar grama, adiante tem a dona Ide mais conhecida como a Vó do Marquinhos e da Bruna, pois seus netos tem mais ou menos a minha idade e brincávamos juntos, ela vendia os famosos sacolés, que fazia o maior sucesso, e para terminar na ultima casa morava a Lucia e a sua família, mas já faz muito tempo que se mudaram.. Começamos agora do outro lado da rua. Em frente à casa da Tânia mora a Maria mãe de dois filhos, um deles infelizmente perdeu a vida ainda muito jovem, ao lado da Maria mora minha vó, num sobrado, que tem como morador do andar de cima meu tio Adão, no mesmo terreno na parte de trás mora outro tio, o Mozart, recordo-me bem da casa de minha vó, uma grande cozinha com fogão a lenha, lá era o local onde meus avôs reuniam toda a família para um jantar isso quando por um bom motivo não estávamos todos no galpão, ao lado da casa da minha vó, mora a Dona Zeni, a enfermeira da rua, quando alguém precisa de uma injeção é com ela. Ao lado mora a Dona Edi com sua família, os próximos vizinhos são recentes e lá eles vivem como se fosse um condomínio, pois ali moram duas famílias, e ainda tem casas para alugar, lá mora a Marlene e seus dois filhos, o Leonardo e o Eduardo, que vieram morar na rua quando o Eduardo o filho mais velho tinha uns quinze anos, destino ou não hoje ele e uma das minhas primas são casados e tem um filho, e para encerrar na ultima casa mora o Sub conheço ele por este apelido, mas infelizmente não temos muito contato, pois eles são aposentados e passam boa parte do tempo viajando.
Então é assim o lugar onde minha família vive, onde eu nasci, cresci e pretendo nunca sair, um lugar que em cada canto trás lembrança da infância, da adolescência, das amizades de uma vida repleta de sonhos e ideais, e como não poderia ser diferente esta rua esta sendo a quarenta e seis anos o cenário perfeito para essa viajem em busca de velhas lembranças que o tempo jamais apagara, agora em frente à casa de minha mãe termino essa viajem.

Minha Rua.


2 comentários:

  1. Muito legal teu texto,Daiane.São tantos detalhes que parece que moro lá também

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  2. Achei muito lindo o teu blog assim como o que escreveste.

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